Mickey 17 (2025)
- Douglas Moutinho
- 23 de mar.
- 2 min de leitura
Uma Reflexão Crítica sobre o Futuro da Humanidade e as Estruturas de Poder
Mickey 17, dirigido pelo aclamado cineasta Bong Joon-ho (Parasita), é uma obra de ficção científica impregnada de um discurso social irônico e incisivo. O diretor, que tem se destacado ao longo de sua carreira por explorar questões de natureza social — tais como as disparidades de classe, a precarização do trabalho, o aquecimento global e as crises existenciais típicas do século XXI —, costuma abordar tais temáticas por meio de uma linguagem sarcástica, que permeia toda a sua filmografia. Embora tais características sejam notáveis tanto em suas produções coreanas quanto nas de língua estrangeira, como Expresso do Amanhã e Okja, Mickey 17 parece intensificar essas questões, servindo como uma continuação e ampliação dos seus temas recorrentes. O filme, além disso, estabelece um diálogo explícito com a tradição da ficção científica, reverberando influências de obras clássicas do gênero, como Alien, o 8º Passageiro e Tropas Estelares, mas também subvertendo-as para apresentar uma crítica ainda mais contundente.

A trama acompanha um grupo de colonizadores, liderados por um político corrupto e manipulador, cuja missão é colonizar um novo planeta. A expedição oferece a oportunidade de se candidatar a diferentes funções. Nesse cenário, Mickey Barnes, interpretado (Robert Pattinson), é transformado em uma espécie de "homem consumível", incumbido da tarefa de sacrificar-se para salvar outros membros da expedição, considerados mais valiosos. Cada vez que Mickey morre, sua consciência é transferida para um novo corpo idêntico, mantendo suas memórias intactas, perpetuando assim a sua exploração dentro do sistema opressor que o vê como uma mera peça descartável.
A narrativa adquire um novo dinamismo quando Mickey, numerado como Mickey 17, sobrevive inesperadamente a um acidente e, dessa forma, coexiste simultaneamente com uma nova versão de si mesmo, Mickey 18. As duas versões do personagem devem então interagir para preservar a ilusão de que são uma única pessoa. A interpretação de Pattinson se destaca de maneira notável, pois ele consegue conferir a cada versão de Mickey uma personalidade única e contrastante: enquanto Mickey 17 é caracterizado pela introversão e pela insegurança, Mickey 18 se revela egoísta e exuberante.
Outro aspecto central da narrativa é a reflexão sobre o direito à terra, um tema fundamental nas questões coloniais e no contexto histórico de exploração. Os novos colonizadores ignoram a presença de uma população nativa, representada por seres alienígenas grotescos, conhecidos como "rastejadores". Aqui, Bong Joon-ho recorre a uma ironia mordaz para abordar a questão da colonização e da marginalização dos povos originários, utilizando uma abordagem leve, mas ao mesmo tempo assertiva.
Em última instância, Mickey 17 é uma obra que habilidosamente combina entretenimento, crítica social e efeitos visuais. Embora inserido dentro do contexto de um blockbuster hollywoodiano, Bong Joon-ho consegue se reinventar, preservando a essência de sua visão de mundo e expandindo os limites de sua filmografia. O filme não só mantém a assinatura única do diretor, como também propõe uma reflexão profunda sobre as questões existenciais e sociais que afligem a humanidade.
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