O Brutalista (2024)
- Douglas Moutinho
- 8 de mar.
- 2 min de leitura
A forma arquitetônica no discurso fílmico
Indicado a dez categorias no Oscar 2025, incluindo melhor filme e tendo sagrando-se vencedor na categoria de melhor ator pela brilhante atuação de Adrien Brody, O Brutalista é um épico de quase quatro hora de duração que conta a história de um arquiteto bem-sucedido que migra para os Estados unidos para fugir da guerra e luta para conquistar o seu espaço nessa nova terra.
O Brutalista, filme que leva o nome de um movimento arquitetônico emblemático do século XX, se utiliza de uma narrativa visual que dialoga diretamente com os princípios do brutalismo. A obra parece refletir, por meio de sua forma as características desse estilo arquitetônico.

Ao longo do filme, a câmera se aproxima de uma estética de formas duras e sólidas, com cenários que não buscam suavizar, mas sim se apresentar como blocos intransigentes. Assim como no brutalismo, que usa o concreto à vista e as formas geométricas simples para criar edificações poderosas e imponentes, a direção de O Brutalista opta por uma estética visual que é, em muitas instâncias, desconfortável. A tentativa de criar uma experiência agradável para o espectador é intercalada com uma que reflete o caos, a frieza e a imponência do espaço, englobando tanto a esfera física quanto a emocional em relação ao protagonista.
O Brutalista não é só sobre as semelhanças entre forma e função. Assim como o movimento arquitetônico foi criticado por seu isolamento e falta de conexão com o ser humano, o filme também aborda a alienação de seus personagens, a falta de afeto, a busca por identidade em um mundo que parece não oferecer respostas satisfatórias. Os personagens são como os prédios brutalistas: sólidos, mas muitas vezes inabitáveis em sua essência, difíceis de se conectar, mas ao mesmo tempo irresistivelmente atraentes em sua complexidade.

O fato de o filme seguir essa mesma estética da rigidez e da impessoalidade cria uma experiência sensorial que, como a arquitetura brutalista, pode ser perturbadora. Para aqueles que buscam algo mais suave ou mais acessível emocionalmente, o filme pode parecer distante ou até desumanizado. Contudo, para os que conseguem enxergar além da superfície, O Brutalista oferece uma reflexão profunda sobre o que significa habitar um espaço físico ou emocional, sendo um convite para abraçar o desconforto, a solidez e a complexidade da existência humana, de maneira tão intransigente quanto os próprios edifícios brutalistas que inspiraram seu nome.
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